18 de agosto de 2011

Oportunidade Perdida

Fui universitária nos anos 90 do último século. Apaixonada pela arte teatral desde a adolescência participei de inúmeras atividades culturais nesse período.

Uma das mais marcantes foi o ingresso em um grupo teatral universitário, no qual montamos uma única peça, só de ensaio levamos um ano, mas finalmente estreamos no anfiteatro da faculdade.

Atores nervosos, diretor tenso e o público – composto em sua totalidade por amigos – chegava aos poucos num misto de curiosidade e espírito incentivador.

Eis então que minutos antes do primeiro sinal fiz o que um ator não deve fazer: dei uma espiadela através da cortina para ver a platéia.

Nesse instante meu coração parou e de súbito disparou, minha boca secou e as pernas tremeram. Não acreditei em meus olhos, e voltei a espiar mais duas vezes para confirmar.

Dirce Migliaccio

Era certo, era ela mesma sentada entre o público: Dirce Migliaccio! A Emília de minha infância, a dona Juju de O Bem Amado. Uma atriz excepcional do teatro brasileiro, de quem eu era absolutamente fã.

Fim da apresentação, sucesso, aplausos entusiasmados do público e novamente a vi, e ela me aplaudia!

Hora de ir embora, personagem e cenário desmontados, ao sair do anfiteatro deparei-me com ela e paralisei. Trocamos um profundo olhar por segundos, e ela sorriu para mim, que tomada pela paralisia da emoção nem retribui com o devido entusiasmo.

Alguém chegou e a levou, enquanto fiquei ali, estanque em minhas emoções. De chofre veio então à minha boca todas as palavras de carinho e admiração que queria ter-lhe dito. Mas não houve mais oportunidade, ela se fora.

Há quase dois anos ela embarcou em sua derradeira viagem e na ocasião me recordei desse momento, lamentei por mim, por ter perdido a única oportunidade que tive em lhe dizer o quanto admirava seu talento.

Deixei o momento passar, não disse o que sentia e perdi minha chance. Dizer a alguém o que se sente verdadeiramente pode fazer a diferença entre o sorriso sincero e o vazio da ideia daquilo que poderia ter sido.

Calar diante de qualquer situação pode ter vários significados: nervosismo, emoção, omissão, desprezo, distração ou indiferença. Qualquer um desses pode causar profundos danos, deixar marcas em quem espera uma palavra de conforto ou reconhecimento.

No meu caso ficou o amargo sabor do tempo perdido que não voltará para que eu possa dizer: “dona Dirce, te acho maravilhosa!”

Por isso agora presto essa singela homenagem à artista que tanto admirei, que viva para sempre o talento de Dirce Migliaccio!


2 comentários:

  1. Lu... realmente, deixamos escapar aquela oportunidade que sempre sonhamos por puro nervosismo ou timidez. O mais duro ainda é saber que a oportunidade que perdemos era a única em nossa vida!!! Um beijo... parabéns pelo texto!

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  2. Lu,
    Lindo o texto... é a pura realidade, perdermos tantas oportunidades de falar para as pessoas o quanto a admiramos, o qto a amamos... ai um dia percebemos que já é tarde....
    Abraços
    Marli

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