Fonte: TV Globo

Dia desses foi ao ar mais uma cena inusitada de Saramandaia, a personagem Dona Redonda explodiu! Então fiquei me perguntando como seria possível uma pessoa explodir? É óbvio que ninguém entra em processo de combustão naturalmente e que neste caso foi puro devaneio do autor, Dias Gomes.

Essa novela, originalmente foi escrita às pressas, nos anos de 70 do século passado, depois que outra – Roque Santeiro – foi proibida no dia de sua estreia. Nesse período as coisas eram assim, ninguém sabia mais o que podia ou não fazer, tudo era reprimido pela ditadura militar.

Enfim, os personagens dessa novela possuem características bastante peculiares, alguém já viu um homem por o coração pela boca ou formiga pelo nariz? No caso de Dona Redonda, sua característica surreal é um apetite voraz, acima de qualquer coisa que possa ser considerado como pecado da gula.

Aparentemente ela explodiu de tanto comer e ponto. Mas nada era tão simples para este autor que fez de tudo para burlar a censura, e sabia usar muito bem a metáfora a seu favor. A personagem era extremamente preconceituosa, não aceitava quem fosse diferente dela, haja visto quantos adjetivos pejorativos ela usava para se referir a João Gibão.

Ela devora ferozmente um frango e entupia com seu preconceito, armações e intrigas. Foi se sufocando com seu próprio veneno e explodiu, fazendo com que todos se mobilizassem para colher seus pedaços e deixando a cidade totalmente tomada por mau cheiro terrível.

É exatamente isso que acontece na realidade. As pessoas se alimentam de preconceitos, inveja, ódio, intrigas, soberba e outros sentimentos ruins, de repente boom! Explodem e atacam seu alvo com uma voracidade desumana. Guerras, homofobia, racismo e outras violências são frutos dessa explosão fétida de pessoas que não controlam sua gula maligna. E depois vamos todos nós correr para colher os destroços. 

A Dona Redonda é uma metáfora da nossa realidade, se não acordarmos logo a hecatombe será inevitável e completamente devastadora.