19 de novembro de 2014

Sobre o "ter mais de 30"

Fonte: Tips From Real  Housewives
Na maravilhosa música do grande Marcos Valle, “Mais de 30”, ouvimos repetidamente: “não confie em ninguém com mais de trinta anos...”. E isso aterroriza alguém que JÁ passou dos 30.
 
Quando esse texto for divulgado, terá passado mais de uma semana que este ser que vos escreve completou 32 anos. Soa assustador. E é. Mas vamos analisar sobre isso.
 
Até os 19 anos, pensamos ter a vida toda pela frente... é quando bebemos até cair; namoramos, ficamos curtimos tudo e todos; é quando você se sente no direito de errar e pensa que o Universo lhe deve uma recompensa, mesmo que o errado tenha sido justamente você! Se acha invencível, ainda mais se passar no vestibular. O mundo é meu, pensamos.
 
Chegamos à casa dos vinte e as coisas mudam. Você está se formando; você começa a trabalhar; você tem contas sérias (não apenas contas de bar e balada, mas aluguel, seu carro, sua compra do mês, suas roupas, calçados, você passa a bancar seus cursos e viagens...). Alguns casam, outros têm filhos... a visão de mundo muda, mas ainda temos vinte e poucos anos e o sentimento de poder errar ainda nos toma. Pensamos, sério!, que ainda temos todas as chances do mundo: se eu quiser mudar de emprego sem ter outro em vista, eu posso; se eu quiser abandonar esse curso e começar outro, eu posso; se eu não gostar desse apartamento, eu saio, eu posso. E chegamos aos 30. No meu caso, passei dos 30. Quando temos nossos vinte e poucos anos, há um peso inconsciente desse número: 30.
 
Trinta, dizem, é a idade do sucesso. É quando você se sente bem com seu corpo (ou deveria); é quando você se estabiliza no trabalho ou numa profissão (ou deveria); é quando você sabe exatamente o que quer da vida (ou deveria); é quando as coisas parecem fazer mais sentido (ou deveria). 
 
Quando cheguei aos trinta, muita coisa havia acontecido em minha vida: perdi meus pais; perdi várias oportunidades de emprego; mudanças; saudades; tantas coisas que me sentia anestesiado para esse “peso”: decidi, de corpo, alma e coração, não me delegar esses “pesos”; não me importa o sucesso profissional (deveria?); não me importa o tal corpo perfeito (deveria?); não me importa se as coisas fazem sentido ou não (deveria...). O que eu sinto agora é uma imensa vontade de, realmente, lutar por meus sonhos e objetivos; cuidar de minha saúde; cuidar do meu amor e de nossa casa; escrever sempre sempre e sempre mais e mais e, sim, buscar minhas certezas, se é que elas existem e creio cada vez mais que não.
 
Eu me recuso, ao chegar aos 32, com todos os rótulos impostos. Porém, eles estão atrás de mim. Como sempre, pareço perdido e resolvo fazer mais um texto que parece contraditório do início ao fim, mas é assim que me sinto aos 32: contraditório. Quero as baladas, mas quero ficar em casa lendo e vendo séries e filmes. Quero construir o tal corpo perfeito, e também acho sensualíssimo um corpo dito “normal”. Quero mudar, viajar, voar, voar... subir, subir... mas também bateu uma vontade de construir raízes. O que fazer então?
 
Devemos confiar em alguém com mais de trinta? Sabendo ou não o que se quer; tendo ou não seu sucesso alcançado; fazendo ou não o que se quer. O que importa nesse momento, é ficar em paz consigo mesmo. Independente de sua idade. 
 
Hoje, ainda me permito errar. Mas agora com mais medo. Antes, me sentia no direito de errar. Hoje, com tantas lições e tapas da vida, sinto que é preciso cautela. Não existe o direito de errar, mas a obrigação de não repetir velhos erros.
 
Isso que dá ter mais de trinta!
 
“Eu meço a vida nas coisas que eu faço
E nas coisas que eu sonho e não faço”
(Marcos Valle – Com Mais de 30)
 

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