15 de junho de 2013
Elena e as memórias sentimentais e familiares
Sim, estive sumido nas últimas semanas e me desculpo. Mas a tal limpeza sentimental que havia comentado num dos últimos posts, tomou uma forma bem maior que a esperada.
Sacos de lixo depois, alguns quilos a menos e um certo peso aliviado, me fizeram respirar fundo e voltar ao dia a dia de sempre. Mas olha que interessante: de repente a rotina não me assusta mais. Fazer os mesmos caminhos, falar as mesmas palavras, pensar os mesmos pensamentos... opa, ai me bateu o medo: devemos temer a rotina a ponto de mudarmos tudo em nossas vidas? Em que momento um fato de nossa história ganha contornos tão palpáveis, que é impossível fugir dele, e cuja única opção é tentar enfrentá-lo?
Essa semana fui assistir a um documentário nacional que está dando o que falar. Muita, mas muita gente tem ido aos cinemas assistir “Elena”, o que é fantástico por dois motivos: primeiro, as pessoas estão fazendo filas para ver um filme nacional; segundo: esse filme é um documentário, gênero difícil de fazer muito sucesso aqui em nossas terras (e em outras também).
“Elena” conta a história de Petra, irmã de Elena, que parte em busca de uma resposta, para preencher uma lacuna que jamais se completará: sua irmã teve um destino trágico, e ela quer entender ao menos o caminho que a levou até esse fim.
Elena sempre quis ser atriz e, com essa pretensão, parte para Nova York para fazer um curso de interpretação, após alguns trabalhos aqui no Brasil. Após idas e vindas, sua mãe e sua irmã, Petra, então com sete anos, partem para Nova York para ficarem junto de Elena. Envolvida num turbilhão interno de sentimentos mistos e nunca externados, Elena encontra um fim trágico. A partir daí, a vida de Petra e de sua mãe começam a girar em torno dessas lembranças, dessas reticências, dos eternos porquês.
Juntando vários vídeos e documentos familiares, entrevistas e fotos, Petra tenta montar um mosaico sobre quem era essa mulher, sua irmã, sua musa. Quem teria sido Elena? E, o quanto de Elena está em Petra? Teriam as duas os mesmos destinos? A mesma sina?
É o que se pergunta Petra com esse documentário que, ao final, com todos os pormenores e ações duvidosas (falando em termos de linguagem cinematográfica e narrativa), deixa um nó na garganta infinito, uma interrogação, uma pergunta no ar, cuja resposta jamais poderá ser descoberta ou entendida.
Tive a impressão que o filme é como aquela lembrança melancólica, aquela memória familiar que nos deixa tão tristes, porque sabíamos felizes. É aquela lembrança de um momento que se foi e não volta; de pessoas tão amadas que partiram, às vezes, sem tempo de acenar ou dizer adeus.
Resta-nos tentar compreender. Ou não.
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