“O mar serenou quando ela pisou na areia”, com esses versos a cantora Clara Nunes iniciava a canção que foi um dos seus maiores sucessos. Mineira da cidade de Paraopeba, nasceu como Clara Francisca Gonçalves e era caçula de sete filhos. Após a morte precoce de seus pais, foi criada pelos irmãos mais velhos. Seu envolvimento com a música deu-se desde sua infância, quando começou a cantar no coro da igreja. 

Aos 16 anos mudou-se para Belo Horizonte, onde trabalhou como tecelã durante o dia e iniciava sua carreira como cantora da noite. Cantava em boates acompanhada de um jovem músico chamado Bituca, hoje mais conhecido como Milton Nascimento. Conquistou muito sucesso em seu estado natal, por isso mudou-se para o Rio de Janeiro onde alcançou sucesso nacional e internacional. 

Clara Nunes, que iniciou sua carreira cantando boleros e canções de amor, encontrou seu estilo nas rodas de samba e quadras de escolas de samba. Cantou como poucos sambas tradicionais, sambas de enredo, musicas folclóricas e grandes clássicos da MPB. 

Dona de uma beleza única, seu figurino foi se transformando ao longo de sua carreira até que ela só usava roupas brancas e adereços que remetiam à cultura africana. Muitas de suas músicas também eram da mesma origem. Não era envolvida em atividades políticas ou ideológicas, o que era muito comum no período da ditadura militar, mas mantinha uma postura pessoal muito transparente e determinada ao assumir sua religião, seus orixás e toda tradição cultural que fazia questão de interpretar em suas canções. 

Em março de 1983, ao passar por uma cirurgia de varizes, que aparentava ser simples, Clara teve um choque anafilático, permanecendo em coma por 28 dias, em dois de abril nos deixou poucos meses antes de completar quarenta anos. Assim sua imagem se perpetuou, sempre jovem e linda, cantando como um sabiá as belas canções de seu repertório, que ressaltavam sua fé e as belezas de nossa natureza. Clara foi como um raio de luz, que veio nos iluminar com seu talento.