Assisti a minissérie sobre a vida da polêmica, controvérsia e talentosa Dercy Gonçalves. Confesso que nunca fui uma fã ardorosa dela, assistia algumas coisas e nem sempre gostava de tudo.

Mas não posso negar que independente disso, sempre a admirei muito. Ela foi uma transgressora durante toda sua vida. Nunca se conformou com o que lhe era imposto pela sociedade machista em que nasceu. As mulheres nesse tempo ainda não tinham querer e tão pouco o direito de sonhar. Ela então que nasceu em uma família muito pobre, que perdeu a mãe ainda criança e como ela mesma dizia: “não foi criada, cresceu como mato”, menos ainda. Não teve quem lhe orientasse a ser uma menina de bons modos, tinha personalidade muito forte e não levava desaforo para casa.

Não discuto seu talento, que era nato. Ela nunca fez uma aula de canto, dança ou interpretação, tudo que ela aprendeu foi mambenbando, no teatro rebolado e no teatro de revista, enfrentando todo tipo de preconceito.

Hoje em dia todo mundo quer ser famoso e fazem qualquer coisa por isso, basta lembrarmos dos acontecimentos da última semana, com falsa gravidez, garota do Canadá e reality show. Mas para Dercy não foi tão fácil, ela é da época em que para ser atriz, a mulher precisava ter uma carteirinha de licença da Saúde Pública com registro de prostituta. Não era nada glamuroso ser atriz, ao contrário, elas eram tratadas como marginais.

Graças a mulheres como Dercy Gonçalves, que enfrentaram o mundo quebrando paradigmas, que hoje estou aqui, que posso votar, estudar, trabalhar, escrever para um jornal e tantas outras coisas. Ela não foi a única guerreira desse exercito sem armas, assim como ela outras mulheres ousaram romper barreiras impostas pela sociedade de sua época, entre várias posso citar Maria Quitéria, Joana Angélica, Ana Neri, Chiquinha Gonzaga, Anita Garibaldi, Antonieta de Barros, Bertha Lutz , Pagú, Ruth de Souza, Zuzu Angel, Cora Coralina minha e sua mãe. Reconheço o valor de sua luta e por isso agradeço. Mercy Dercy!